Papagaios-de-cara-roxa, que são comuns na Juréia, e primatas monocarvoeiros — há registros de somente 650 animais ainda existentes — foram as duas principais surpresas encontradas no Núcleo Cubatão da Serra do Mar, durante um levantamento feito pela Universidade Metodista para o Projeto Guardiães da Fauna. ‘‘Na realidade, encontramos mais espécies ameaçadas e muito visadas por caçadores’’, comentou a professora Waverli Neuberger, coordenadora do Núcleo e da Agência Ambiental da universidade.
Com o objetivo principal de ajudar a combater o comércio ilegal e o tráfico de animais silvestres, foi lançado ontem pela manhã na sede da Ecovias, em forma de campanha educativa, o projeto que será desenvolvido de forma permanente no Sistema Anchieta/Imigrantes (SAI), atingindo também os entornos de toda aquela região.
O projeto foi criado por meio de uma parceria entre a Ecovias, concessionária que administra o SAI, a ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) e a universidade para proteger animais silvestres ‘‘como esses papagaios raros e primatas diferenciados, que estão em processo de extinção’’, comentou o fundador e diretor da Renctas, Dener Giovanini.
De acordo com ele, só no Brasil movimenta-se entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões (cerca de R$ 5 bilhões) por ano com esse tráfico (ver quadro). ‘‘Acreditamos que mais de 38 milhões de animais são capturados a cada ano no País, mas pouco mais de 10% desses bichos chegam vivos e com saúde ao destino’’.
Rodovias
Para ele, a importância de uma campanha dessas em estradas é fundamental porque ‘‘grande parte (70% a 75%) desse comércio ilegal escoa pelas rodovias’’.
É por isso que um dos principais alvos do projeto é o caminhoneiro. ‘‘Às vezes, eles nem possuem noção exata do problema e acabam colaborando com o transporte desses animais dos grandes centros para os portos, onde são levados para o exterior’’, emendou o fundador da Renctas.
Dados da ONG, que desenvolve projetos em todo o País desde 1999, mostram ainda que o tráfico de animais é o terceiro maior comércio ilegal do mundo. ‘‘A atividade perde apenas para os tráficos de armas e de drogas’’, observou Giovanini.
Além da tortura praticada aos animais, o tráfico também contribui para o desequilíbrio da cadeia alimentar e para a proliferação de doenças, já que muitos desses bichos carregam vírus e bactérias de seu habitat.
Panfletos
A campanha será desenvolvida nas pistas do SAI e também nas escolas localizadas em toda a área de abrangência da concessionária, incluindo bairros-cota. Já começou ontem a execução da sua primeira fase, com a distribuição de 100 mil folhetos nos pedágios e nas balanças. Documentários em forma de vídeos didáticos (100) serão entregues nos colégios e dois mil cartazes também foram produzidos para o mesmo fim.
A preocupação com a ecologia não é de agora, tanto para a Ecovias quanto para a universidade. Há três anos, a concessionária firmou um convênio com a Metodista para desenvolver pesquisas no Parque Estadual da Serra do Mar.
Já a parceria entre a Renctas e a Ecovias também contou com a intermediação do deputado federal Lobbe Neto (PSDB), que integra uma comissão de Educação na Câmara dos Deputados. Também estiveram presentes no lançamento da campanha o diretor-superintendente da Ecovias, João Lúcio Donnard, e o gerente de comunicação da concessionária, João Schleder.
Saúde
Em comemoração ao Dia Mundial da Saúde (amanhã), a Ecovias disponibiliza até sexta-feira, a todos os usuários do SAI, exames médicos gratuitos de diabetes e pressão arterial.
Os exames serão realizados das 8 às 14 horas em duas tendas armadas na Rodovia dos Imigrantes. Uma ficará na altura do Km 35 da Pista Descendente (sentido Litoral) e a outra será montada no Km 40 da Via Anchieta, no pátio dos caminhoneiros.
Valor dos animais no tráfico
Animais para coleção e para zoológicos
Nome comum Valor em dólares (US$)/unidade
Jibóia 800 a 1.500
Tartaruga 350
Arara-vermelha 3.000
Tucano-toco 2.000
Arara-azul-de-lear 60.000
Papagaio-de-cara-roxa 6.000
Mico-leão-dourado 20.000
Jaguatirica 10.000
Animais para fins científicos
Jararaca-ilhoa 20.000
Cascavel 1.400
Surucucu-pico-de-jaca 3.200
Coral-verdadeira (por grama de veneno) 31.300
Fontes: Ecovias/Renctas/Universidade Metodista