BRASÍLIA (Reuters) – Homenageado pela Organização das Nações Unidas (ONU) por seu trabalho de combate ao tráfico de animais silvestres, o brasileiro Dener Giovanini prometeu fazer duras críticas à política ambiental do governo quando for receber um prêmio em Nova York no dia 19.
“Pretendo fazer críticas à política ambiental do governo brasileiro no discurso de premiação. É o momento de fazer um alerta”, afirmou ele à Reuters na segunda-feira, mostrando-se decepcionado com as ações da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, nos primeiros dez meses da administração Lula.
“Eu não sei por que ela (ministra) continua se submetendo a decisões ambientais negativas de uma maneira tão passiva”, afirmou Giovanini, defendendo que Marina Silva deveria seguir o exemplo de Fernando Gabeira, deputado que deixou o PT no mês passado por não concordar com a política ambiental do governo.
Coordenador-geral da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), Giovanini dividirá com o chinês Xie Zhenhua o prêmio Sasakawa de Meio Ambiente 2003, concedido pelo Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Pnuma) todos os anos e patrocinado desde 1984 pela Fundação Nippon.
Antes de Giovanini, o único brasileiro laureado pelo prêmio havia sido o seringueiro Chico Mendes, em 1990.
O ambientalista fez críticas não somente em relação às deficiências da legislação brasileira em setores da área ambiental, mas também manifestou insatisfação com relação à postura do governo em liberar o comércio de organismos geneticamente modificados.
Ele ressaltou, no entanto, que há avanços no combate ao tráfico de animais silvestres e disse que, no atual governo, há muita dificuldade de se ter acesso a informações sobre apreensões e quadrilhas que se beneficiam do contrabando da fauna nativa.
HISTÓRIA DE COMBATES
Ativista ambiental desde os 15 anos, Giovanini participou ainda adolescente da fundação do Partido Verde, mas deixou a militância política para se dedicar exclusivamante à defesa do meio ambiente.
Apesar de ter sofrido ameaças de morte desde que começou a lutar contra o tráfico de animais, ele disse não se intimidar e salientou que sua luta é mais importante que o perigo que eventualmente sofre.
“Eu me propus a incomodar quem ganha mais de 2 bilhões de dólares por ano. Tive de sair do Rio de Janeiro, capital do tráfico de animais silvestres, e ir para Brasília”, afirmou.
Há mais de 20 anos trabalhando com questões ambientais, Giovanini disse que atualmente seu único projeto de vida é a Renctas, fundada por ele em 1999.
Em 2001, a Renctas fez o primeiro levantamento sobre a situação do tráfico de animais no país. Segundo o levantamento, de cada dez animais retirados da natureza pelos traficantes, apenas um sobrevive.
Países como Estados Unidos, Portugal, Espanha, França e Inglaterra seriam os principais destinos dessa fauna.
Giovanini afirmou que o tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilegal do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e o de armas. Segundo ele, o tráfico de animais movimenta de 15 a 20 bilhões de dólares por ano e o Brasil, país reconhecido por sua rica biodiversidade, é responsável por aproximadamente 2 bilhões de dólares anuais.
O tipo de tráfico mais cruel ao meio ambiente é aquele sustentado colecionadores de espécies raras, que ainda contribui para as situações de extinção, afirmou. O ambientalista ainda disse que o Brasil, apesar de muito ineficiente no combate ao tráfico de animais, não pode ser responsabilizado sozinho pelo recrudescimento da pirataria.
“Não podemos deixar de dizer que a comunidade internacional tem uma grande participação na destruição da biodiversidade, a partir do momento em que ela é uma fomentadora desse tráfico também. É ela que compra e encomenda esses animais”, ressaltou.
(Por Natuza Nery)
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